Como o grande capital financeiro sempre
insaciável, e hoje muito mais poderoso que os próprios Estados, provoca
as crises e manipula os governos, tornando os países mais vulneráveis
ao saque , coadjuvado pelos FMI, Banco Mundial, WTO, Banco Central
Europeu, etc. etc., com seus obedientes lacaios de serviço. ( tipo Bush,
Merkels, Van Rompuys, Constâncios, Barrosos, Sócrates , Passos
Coelhos... ). Visto por um "insider", que também nos diz que é urgente
resistir! - (Texto de autor desconhecido)
John Perkins. “Portugal está a ser assassinado, como muitos países do terceiro mundo já foram”
Por Sara Sanz Pinto, publicado em 3 Mar 2012 - 20:42 | Actualizado há 29 semanas 1 dia
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Chamou-se a si próprio assassino económico no
livro “Confessions of an Economic Hit Man”, que se tornou bestseller do
“New York Times”

Em tempos consultor na empresa Chas. T. Main, John Perkins andou
dez anos a fazer o que não devia, convencendo países do terceiro mundo a
embarcar em projectos megalómanos, financiados com empréstimos
gigantescos de bancos do primeiro mundo. Um dia, estava nas Caraíbas,
percebeu que estava farto de negócios sujos e mudou de vida. Regressou a
Boston e, para compensar os estragos que tinha feito, decidiu usar os
seus conhecimentos para revelar ao mundo o jogo que se joga nos
bastidores financeiros.
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Como se passa de assassino económico a activista?
Em primeiro lugar é preciso passar-se por uma forte mudança de
consciência e entender o papel que se andou a desempenhar. Levei algum
tempo a compreender tudo isto. Fui um assassino económico durante dez
anos e durante esse período achava que estava a agir bem. Foi o que me
ensinaram e o que ainda ensinam nas faculdades de Gestão: planear
grandes empréstimos para os países em desenvolvimento para estimular as
suas economias.
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Mas o que vi foi que os projectos que estávamos a
desenvolver, centrais hidroeléctricas, parques industriais, e outras
coisas idênticas, estavam apenas a ajudar um grupo muito restrito de
pessoas ricas nesses países, bem como as nossas próprias empresas, que
estavam a ser pagas para os coordenar.
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Não estávamos a ajudar a maioria
das pessoas desses países porque não tinham dinheiro para ter acesso à
energia eléctrica, nem podiam trabalhar em parques industriais, porque
estes não contratavam muitas pessoas.
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Ao mesmo tempo, essas pessoas
estavam a tornar--se escravos, porque o seu país estava cada mais
afundado em dívidas. E a economia, em vez de investir na educação, na
saúde ou noutras áreas sociais, tinha de pagar a dívida. E a dívida
nunca chega a ser paga na totalidade.
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No fim, o assassino económico
regressa ao país e diz-lhes “Uma vez que não conseguem pagar o que nos
devem, os vossos recursos, petróleo, ou o que quer que tenham, vão ser
vendidos a um preço muito baixo às nossas empresas, sem quaisquer
restrições sociais ou ambientais”. Ou então, “Vamos construir uma base
militar na vossa terra”.
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E à medida que me fui apercebendo disto a minha
consciência começou a mudar. Assim que tomei a decisão de que tinha de
largar este emprego tudo foi mais fácil. E para diminuir o meu
sentimento de culpa senti que precisava de me tornar um activista para
transformar este mundo num local melhor, mais justo e sustentável
através do conhecimento que adquiri.
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Nessa altura a minha mulher e eu
tivemos um bebé. A minha filha nasceu em 1982 e costumava pensar como
seria o mundo quando ela fosse adulta, caso continuássemos neste
caminho. Hoje já tenho um neto de quatro anos, que é uma grande
inspiração para mim e me permite compreender a necessidade de viver num
sítio pacífico e sustentável.
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Houve algum momento em particular em que tenha dito para si mesmo “não posso fazer mais isto”?
Sim, houve. Fui de férias num pequeno veleiro e estive nas Ilhas
Virgens e nas Caraíbas. Numa dessas noites atraquei o barco e subi às
ruínas de uma antiga plantação de cana-de-açúcar. O sítio era lindo,
estava completamente sozinho, rodeado de buganvílias, a olhar para um
maravilhoso pôr do Sol sobre as Caraíbas e sentia-me muito feliz.
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Mas de
repente cheguei à conclusão que esta antiga plantação tinha sido
construída sobre os ossos de milhares de escravos. E depois pensei como
todo o hemisfério onde vivo foi erguido sobre os ossos de milhões de
escravos.
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E tive também de admitir para mim mesmo que também eu era um
esclavagista, porque o mundo que estava a construir, como assassino
económico, consistia, basicamente, em escravizar pessoas em todo o
mundo. E foi nesse preciso momento que me decidi a nunca mais voltar a
fazê--lo. Regressei à sede da empresa onde trabalhava em Boston e
demiti-me.
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E qual foi a reacção deles?
De início ninguém acreditou em mim. Mas quando se aperceberam de que
estava determinado tentaram demover-me. Fizeram-me propostas muito
interessantes. Mas fui-me embora à mesma e deixei por completo de me
envolver naquele tipo de negócios.
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Diz que os assassinos económicos são profissionais altamente
bem pagos que enganam os países subdesenvolvidos, recorrendo a armas
como subornos, relatórios falsificados, extorsões, sexo e assassinatos.
Pode explicar às pessoas que não leram o seu livro como tudo isto
funciona?
Basicamente, aquilo que fazíamos era escolher um país, por exemplo a
Indonésia, que na década de 70 achávamos que tinha muito petróleo do
bom. Não tínhamos a certeza, mas pensávamos que sim. E também sabíamos
que estávamos a perder a guerra no Vietname e acreditávamos no efeito
dominó, ou seja, se o Vietname caísse nas mãos dos comunistas, a
Indonésia e outros países iriam a seguir.
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Também sabíamos que a
Indonésia tinha a maior população muçulmana do mundo e que estava
prestes a aliar-se à União Soviética, e por isso queríamos trazer o país
para o nosso lado. Fui à Indonésia no meu primeiro serviço e convenci o
governo do país a pedir um enorme empréstimo ao Banco Mundial e a
outros bancos, para construir o seu sistema eléctrico, centrais de
energia e de transmissão e distribuição.
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Projectos gigantescos de
produção de energia que de forma alguma ajudaram as pessoas pobres,
porque estas não tinham dinheiro para pagar a electricidade, mas
favoreceram muito os donos das empresas e os bancos e trouxeram a
Indonésia para o nosso lado.
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Ao mesmo tempo, deixaram o país
profundamente endividado, com uma dívida que, para ser refinanciada pelo
Fundo Monetário Internacional, obrigou o governo a deixar as nossas
empresas comprarem as empresas de serviços básicos de utilidade pública,
as empresas de electricidade e de água, construir bases militares no
seu território, entre outras coisas.
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Também acordámos algumas
condicionantes, que garantiam que a Indonésia se mantinha do nosso lado,
em vez de se virar para a União Soviética ou para outro país que hoje
em dia seria provavelmente a China.
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Trabalhou de muito perto com o Banco Mundial?
Muito, muito perto. Muito do dinheiro que tínhamos vinha do Banco
Mundial ou de uma coligação de bancos que era, geralmente, liderada pelo
Banco Mundial.
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Sugere no seu livro que os líderes do Equador e do Panamá
foram assassinados pelos Estados Unidos. No entanto, existem vários
historiadores que defendem que isso não é verdade. O que acha que
aconteceu com Jaime Roldós e Omar Torrijos?
Não existem provas sólidas quer do que aconteceu no Equador, com
Roldós, quer do que se passou no Panamá, com Torrijos. Porém, existem
muitas provas circunstanciais. Por exemplo, Roldós foi o primeiro a
morrer, num desastre de avião em Maio de 1981, e a área do acidente foi
vedada, ninguém podia ir ao local onde o avião se despenhou, excepto
militares norte-americanos ou membros do governo local por eles
designados.
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Nem a polícia podia lá entrar. Algumas testemunhas-chave do
desastre morreram em acidentes estranhos antes de serem chamadas a
depor.
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Um dos motores do avião foi enviado para a Suíça e os exames
mostram que parou de funcionar quando estava ainda no ar e não ao chocar
contra a montanha. Isto é, existem provas circunstanciais tremendas em
torno desta morte, e além disso todos estavam à espera que Jaime Roldós
fosse derrubado ou assassinado porque não estava a jogar o nosso jogo.
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Logo depois de o seu avião se ter despenhado, Omar Torrijos juntou a
família toda e disse: “O meu amigo Jaime foi assassinado e eu vou ser o
próximo, mas não se preocupem, alcancei os objectivos que queria
alcançar, negociei com sucesso os tratados do canal com Jimmy Carter e
esse canal pertence agora ao povo do Panamá, tal como deve ser. Por
isso, depois de eu ser assassinado, devem sentir-se bem por tudo aquilo
que conquistei.”
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A verdade é que os EUA, a CIA e pessoas como o Henry
Kissinger admitiram que o nosso país tinha derrubado Salvador Allende,
no Chile; Jacobo Arbenz, na Guatemala; Mohammed Mossadegh, no Irão;
participámos no afastamento de Patrice Lumumba, no Congo; de Ngô Dinh
Diem, no Vietname. Existem inúmeros documentos sobre a história dos EUA
que provam que fizemos estas coisas e continuamos a fazê-las.
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Sabe-se
que estivemos profundamente envolvidos, em 2009, no derrube no
presidente Manuel Zelaya, nas Honduras, e na tentativa de afastar Rafael
Correa, no Equador, também há não muito tempo. Os EUA admitiram muitas
destas coisas e pensar que eles não estiveram envolvidos nos homicídios
de Roldós e Torrijos...
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Estes dois homens foram assassinados quase da
mesma forma, num espaço de três meses. Ambos tinham posições contrárias
aos EUA e às suas empresas e estavam a assumir posições fortes para
defender os seus povos – é pouco razoável pensar o contrário.
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Algumas pessoas acusam-no de ser um teórico da conspiração. O que tem a dizer sobre isso?
Bem, não sou, de modo nenhum, um teórico da conspiração. Não acredito
que exista uma pessoa ou um grupo de pessoas sentadas no topo a tomar
todas as decisões. Mas torno muito claro no meu último livro,
“Hoodwinked” (2009), e também em “Confessions of an Economic Hit Man”
(2004) – editado em Portugal pela Pergaminho em 2007 com o título
“Confissões de Um Mercenário Económico: a Face Oculta do Imperialismo
Americano” –, que as multinacionais são movidas por um único objectivo
que é maximizar os lucros, independentemente das consequências sociais e
ambientais. Estes últimos são novos objectivos que não eram ensinados
quando estudei Gestão, no final dos anos 60.
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Ensinaram-me que havia
apenas este objectivo entre muitos outros, por exemplo tratar bem os
funcionários, dar-lhes uma boa assistência na saúde e na reforma, ter
boas relações com os clientes e os fornecedores, e também ser um bom
cidadão, pagar impostos e fazer mais que isso, ajudar a construir
escolas e bibliotecas.
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Tudo se agravou nos anos 70, quando Milton
Friedman, da escola de economia de Chicago, veio dizer que a única
responsabilidade no mundo dos negócios era maximizar os lucros,
independentemente dos custos sociais e ambientais. E Ronald Reagan,
Margaret Thatcher e muitos outros líderes mundiais convenceram-se disso
desde então.
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Todas estas empresas são orientadas segundo este objectivo e
quando alguma coisa o ameaça, seja um acordo de comércio multilateral
seja outra coisa qualquer, juntam--se para garantir que o mesmo é
protegido. Isto não é uma conspiração, uma conspiração é ilegal, isto
que fazem não é. No entanto, é extremamente prejudicial para a economia
mundial.
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Também escreveu que o objectivo último dos EUA é construir
um império global. Como vê a recente estratégia norte-americana contra a
China e o Irão?
Actualmente, podemos dizer que o novo império não é tanto americano
como formado por multinacionais. Penso que a ditadura das grandes
empresas e dos seus líderes forma hoje a versão moderna desse império.
Repito, isto não é uma conspiração, mas todos eles são movidos por esse
objectivo de que falámos anteriormente.
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Mas vários especialistas defendem que estamos num cenário de
terceira guerra mundial, com a China, a Rússia e o Irão de um lado e os
EUA, a União Europeia (UE) e Israel do outro. E que toda a conversa de
Washington em torno do programa nuclear iraniano não passa de uma grande
mentira.
Não acredito que todo este conflito seja motivado por armas nucleares.
Na verdade, vários estudos recentes, alguns deles das mais respeitadas
agências de informações norte-americanas, mostram que não existem armas
nucleares no Irão.
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E acredito que tudo isto não se deve apenas aos
recursos iranianos mas também à ameaça de Teerão de vender petróleo no
mercado internacional numa moeda que não o dólar, uma ameaça também
feita por Muammar Kadhafi, na Líbia, e Saddam Hussein, no Iraque.
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Os
norte-americanos não gostam que ameacem o dólar e não gostam que ameacem o
seu sistema bancário, algo que todos esses líderes fizeram – o líder do
Irão, o líder do Iraque, o líder da Líbia. Derrubaram dois deles e o
terceiro ainda lá está. Penso que é disto que se trata.
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Não tenho
dúvidas de que a Rússia está a gostar de ver a agitação entre a UE e o
Irão, porque Moscovo tem muito petróleo e, se os fornecedores iranianos
deixarem de vender, o preço do petróleo vai subir, o que será uma grande
ajuda para a Rússia.
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É difícil acreditar que qualquer destes países
queira mesmo entrar numa terceira guerra mundial. No fundo, o que querem
é estar constantemente a confundir as pessoas, parecendo que querem
entrar em conflito e ajudar a alimentar as máquinas de guerra, porque
isso ajuda uma série de grandes empresas.
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Como durante a Guerra Fria?
Sim, como durante a Guerra Fria, porque isso é bom para os negócios. No
fundo, estes países estão todos a servir os interesses das grandes
empresas. Há algumas centenas de anos, a geopolítica era
maioritariamente liderada por organizações religiosas; depois os
governos assumiram esse poder.
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Agora chegámos à fase em que a
geopolítica é conduzida em primeiro lugar pelas grandes multinacionais. E
elas controlam mesmo os governos de todos os países importantes,
incluindo a Rússia, a China e os EUA.
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A economia da China nunca poderia
ter crescido da forma que cresceu se não tivesse estabelecido fortes
parcerias com grandes multinacionais. E todos estes países são muito
dependentes destas empresas, dos presidentes destas empresas, que gostam
de baralhar as pessoas, porque constroem muitos mísseis e todo o tipo
de armas de guerra. É uma economia gigante.
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A economia norte-americana
está mais baseada nas forças armadas que noutra coisa qualquer.
Representa a maior fatia do nosso orçamento oficial e uma parte maior
ainda do nosso orçamento não oficial. Por isso tanto a guerra como a
ameaça de guerra são muito boas para as grandes multinacionais.
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Mas não
acredito que haja alguém que nos queira ver de facto entrar em guerra,
dada a natureza das armas. Penso que todas as pessoas sabem que seria
extremamente destrutivo.
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Como avalia o trabalho de Barack Obama enquanto presidente dos EUA?
Penso que se esforçou muito por agir bem, mas está numa posição
extremamente vulnerável. Assim que alguém entra na Casa Branca, sejam
quais forem as suas ideias políticas, os seus motivos ou a sua
consciência, sabe que é muito vulnerável e que o presidente dos EUA, ou
de outro país importante, pode ser facilmente afastado.
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Nalgumas partes
do mundo, como a Líbia ou o Irão, talvez só com balas o seu poder possa
ser derrubado, mas em países como os EUA um líder pode ser afastado por
um rumor ou uma acusação. O presidente do FMI, Dominique Strauss-Kahn,
ver a sua carreira destruída por uma empregada de quarto de um hotel,
que o acusou de violação, foi um aviso muito forte a Obama e a outros
líderes mundiais.
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Não estou a defender Strauss-Kahn – não faço a mínima
ideia de qual é a verdade por trás do que aconteceu, mas o que sei é que
bastou uma acusação de uma empregada de quarto para destruir a sua
carreira, não só como director do FMI mas também como potencial
presidente francês. Bill Clinton também foi afastado por um escândalo
sexual, mas no tempo de John Kennedy estas coisas não derrubavam
presidentes.
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Só as balas. Porém, descobrimos com Bill Clinton que um
escândalo sexual – e não é preciso ser uma coisa muito excitante, porque
aparentemente ele nem sequer teve sexo com a Monica Lewinsky, fizeram
uma coisa qualquer com um charuto que já não me lembro – foi o
suficiente para o descredibilizar. Por isso Obama está numa posição
muito vulnerável e tem de jogar o jogo e fazer o melhor que pode dentro
dessas limitações. Caso contrário, será destruído.
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No fim do ano passado escreveu um artigo onde afirmava que a
Grécia estava a ser atacada por assassinos económicos. Acha que
Portugal está na mesma situação?
Sim, absolutamente, tal como aconteceu com a Islândia, a Irlanda, a
Itália ou a Grécia. Estas técnicas já se revelaram eficazes no terceiro
mundo, em países da América Latina, de África e zonas da Ásia, e agora
estão a ser usadas com êxito contra países como Portugal.
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E também estão
a ser usadas fortemente nos EUA contra os cidadãos e é por isso que
temos o movimento Occupy. Mas a boa notícia é que as pessoas em todo o
mundo estão a começar a compreender como tudo isto funciona. Estamos a
ficar mais conscientes.
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As pessoas na Grécia reagiram, na Rússia
manifestam-se contra Putin, os latino-americanos mudaram o seu
subcontinente na última década ao escolher presidentes que lutam contra a
ditadura das grandes empresas. Dez países, todos eles liderados por
ditadores brutais durante grande parte da minha vida, têm agora líderes
democraticamente eleitos com uma forte atitude contra a exploração.
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Por
isso encorajo as pessoas de Portugal a lutar pela sua paz, a participar
no seu futuro e a compreender que estão a ser enganadas. O vosso país
está a ser saqueado por barões ladrões, tal como os EUA e grande parte
do mundo foi roubado. E nós, as pessoas de todo o mundo, temos de nos
revoltar contra os seus interesses.
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E esta revolução não exige violência
armada, como as revoluções anteriores, porque não estamos a lutar
contra os governos mas contra as empresas. E precisamos de entender que
são muito dependentes de nós, são vulneráveis, e apenas existem e
prosperam porque nós lhes compramos os seus produtos e serviços.
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Assim,
quando nos manifestamos contra elas, quando as boicotamos, quando nos
recusamos a comprar os seus produtos e enviamos emails a exigir-lhes que
mudem e se tornem mais responsáveis em termos sociais e ambientais,
isso tem um enorme impacto. E podemos mudar o mundo com estas atitudes e
de uma forma relativamente pacífica. Mas as próprias empresas deviam ver que a ditadura das multinacionais é um beco sem saída.
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Bem, penso que está absolutamente certa. Há alguns meses estive a falar
numa conferência para 4 mil CEO da indústria das telecomunicações em
Istambul e vou regressar lá, dentro de um mês, para uma outra
conferência de CEO e CFO de grandes empresas comerciais, e digo-lhes a
mesma coisa.
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Falo muitas vezes com directores-executivos de empresas e
sou muitas vezes chamado a dar palestras em universidades de Gestão ou
para empresários e também lhes digo o mesmo.
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Aquilo que fizemos com esta
economia mundial foi um fracasso. Não há dúvida. Um exemplo disso: 5%
da população mundial vive nos EUA e, no entanto, consumimos cerca de 30%
dos recursos mundiais, enquanto metade do mundo morre à fome ou está
perto disso. Isto é um fracasso. Não é um modelo que possa ser replicado
em Portugal, ou na China ou em qualquer lado.
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Seriam precisos mais
cinco planetas sem pessoas para o podermos copiar. Estes países podem
até querer reproduzi-lo, mas não conseguiriam. Por isso é um modelo
falhado e você tem razão, porque vai acabar por se desmoronar. Por isso o
desafio é como mudamos isto e como apelar às grandes empresas para
fazerem estas mudanças.
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Obrigando-as e convencendo-as a ser mais
sustentáveis em termos sociais e ambientais. Porque estas empresas somos
basicamente nós, a maioria de nós trabalha para elas e todos compramos
os seus produtos e serviços.
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Temos um enorme poder sobre elas. Por
definição, uma espécie que não é sustentável extingue-se. Vivemos num
sistema falhado e temos de criar um novo. O problema é que a maior parte
dos executivos só pensa a curto prazo, não estão preocupados com o tipo
de planeta que os seus filhos e os seus netos vão herdar.
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Podemos afirmar que esta crise mundial foi provocada por
assassinos económicos e rotular os líderes da troika como serial
killers?
Penso que é justo dizer que os assassinos económicos são os homens de
mão, nós, os soldados, e os presidentes das grandes multinacionais e de
organizações como o Banco Mundial, o FMI ou Wall Street, os generais.
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Ainda há dias o “Financial Times” divulgou que os gestores
financeiros de Wall Street andavam a tomar testosterona para se tornarem
ainda mais competitivos. Isto faz parte do beco sem saída de que está a
falar?
A sério?! Ainda não tinha ouvido isso, mas não me surpreende nada. No
entanto, aquilo que precisamos hoje em dia é de um lado feminino, temos
de caminhar na direcção oposta e livrar-nos dessa testosterona.
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Precisamos de mais líderes mulheres, mulheres reais – não homens
vestidos com roupas de mulher, por assim dizer – para trazerem com elas
os valores de receptividade e do apoio e encorajarem os homens a
cultivar isso neles próprios. Nós, homens, temos de estar muito mais
ligados ao nosso lado feminino.
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Se fôssemos apresentar esta crise económica à polícia, quem seriam os criminosos a acusar?
Pense em qualquer grande multinacional e à frente dessa multinacional
estará alguém responsável pela ditadura empresarial, seja a Goldman
Sachs, em Wall Street, seja a Shell, a Monsanto ou a Nike.
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Todos os
líderes dessas empresas estão profundamente envolvidos em tudo isto e,
da mesma forma, estão os líderes do FMI, do Banco Mundial e de outras
grandes instituições bancárias.
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Detesto estar a dar nomes, estas pessoas
estão sempre a mudar de emprego, por isso prefiro apontar os cargos.
Eles estão sempre em rotação, por exemplo, o nosso antigo presidente,
George W. Bush, veio da indústria petrolífera.
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A sua secretária de
Estado, Condoleezza Rice, também veio da indústria petrolífera. Já Obama
tem a sua política financeira concebida por Wall Street,
maioritariamente pela Goldman Sachs. Mudaram-se da empresa para a actual
administração norte-americana.
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A sua política de agricultura é feita
por pessoas da Monsanto e de outras grandes empresas do sector. E a
parte triste é que assim que o seu tempo expirar em Washington voltam
para essas empresas. Vivemos num sistema incrivelmente corrupto. Aquilo a
que chamamos política das portas giratórias é só uma outra designação
de corrupção extrema.